Este conto poderia ser de estudantes, poderia ser de mães, de filhas, migrantes ou bordadeiras talvez – todas elas poderiam definir-nos, se abríssemos janelas para nos mostrar.
Hoje, prefiro que o conto seja apenas de mulheres, de negras.
Ele será de uma mulher negra obstinada que virou princesa e se chama Arnete.
Um dia ela entrou na sala de aula, mulher alta, charmosa, roupas e acessórios coloridos que chamavam a atenção para o seu sorriso fácil e longos cílios postiços que a deixavam mais glamorosa ainda.
Era ela quem melhor contava as histórias que liamos ou gravávamos no nosso grupo, era ela que chegava com uns panos bordados ou tingidos que pareciam mágicos, surgiam de maneira tão espontânea que a maioria de nós duvidava que algum dia pudesse fazer igual. Ela se divertia e soltava sonoras risadas.
No mês de novembro, ao apresentar seu trabalho final ela disse: “Este ano me descobri negra”.

A Princesa Obstinada, bordado

Por um momento parei e pensei: “como assim?”
Deveria eu ter analisado esta classificação antes? Seriam minhas colegas de classe brancas, ruivas, pardas, índias, mestiças ou negras? Para mim, ela era uma mulher linda, alegre e com um carisma incrível.
Ao ouvir sua história soube que teria que entrevistá-la para Amaridades, afinal ela falava de raízes, de antepassados, do orgulho de ter se descoberto negra igual a sua bisavó escrava, sua avó e seu pai.
Foi por isso que eu quis escrever e compartilhar este momento, incentivando mulheres a se descobrirem princesas, “Princesas Obstinadas” se abrindo para sua história e sua linhagem, como aconteceu com Arnete.
Nota: “A Princesa Obstinada”, é um conto do livro “Histórias da Tradição Sufi”
Curso do Tecer ao Texto e Vice-versa – CCE PUC Rio
Prof Marcela Fernandes de Carvalho